Yours, Cher

Iluminado pela lua encarcerada na janela do teu quarto, o meu corpo delineava-se nas paredes para que estas se enchessem de vida. Não havia vento, mas o vestido de verão que trazia escorregava-me pela pele, caindo mudo no chão. Alma em carne viva, doce tragédia, paixão imediata. Olhavas agora o meu corpo nu com uma admiração fluída, como quem aprecia um quadro. Ténue, suave, polido. Tentei mover-me, mas detiveste-me levantando a mão. Querias ver-me, disseras, decorar-me. Eu seria a tua primeira imagem. Tudo à minha volta estava empestado com o teu odor, e embora não me tocasses, arrepiavas-me e sentia-te correr por mim com os olhos que deviam ser lábios. Vi-me então em ti, pintavas-me nos olhos com cores ainda por descobrir. Disseste que todos os meus sinais se alinhavam para ti como constelações num universo que nunca se desleixa, e que já ouviras as estrelas conspirar sobre nós. Aproximaste-te e o ar ficou quente, e ao teu toque senti-me queimar. Corpos são esculturas, explicaste, e cobriste-me a pele com as tuas mãos; num céu coberto por estrelas.