Não quero que vás embora sussurrou-me depois de acordarmos daquele sonho vivo. Fiquei. AM estava a tocar em plano de fundo e nunca percebera o seu fascínio por discos vinil ao invés de CD's até àquela tarde. Rolou para cima do meu tronco e ficamos cercados por um olhar de desejo pesado. Quis perguntar-lhe o que o fizera mudar de ideias sobre mim, perder a sensação de que eu não era suficiente. Estar ali fora sempre tudo o que eu quisera mas a esperança morrera à tanto tempo quanto me lembrava. No entanto ali estava ele, ele mesmo, a dizer que me amava e ali estava eu, sem conseguir articular palavras e com o ritmo cardíaco mais acelerado que o carro descontrolado da minha mãe. Respondi-lhe com um beijo que sabia a pouco mas que o fez sorrir como um louco. Amava-o com todos os poros do meu corpo e cada um deles o queria perto, mais perto: pele na pele, mãos entrelaçadas e línguas que sabem correr. Os seus dedos passaram pelo meu lábio inferior, acariciando-o. Confia em mim repetiu-me tantas vezes quantas consegui contar; a minha respiração era ofegante e ansiosa e cerrei os olhos, incrédula. És a maior prova da minha realidade, senti-lhe a voz e o corpo, desculpa ter duvidado.
