
O mundo escorre-lhe na tela como sangue fluído nas veias. O pincel, como uma arma, perspicaz e letal. Manchas de tinta, línguas e histórias preenchem rapidamente os espaços em branco. Disseram-me um dia que a arte era a forma de corrupção mais bela do nosso ser. Os nossos desejos pintados, escritos por nós e interpretados por outros, na sua forma original. A arte é a representação da realidade aos olhos de cada um, é aquilo por que lutamos. Arte é guerra, é paixão, é equilíbrio, é revolução - do corpo, da mente. A arte sou eu de roupa interior e descalça, sentada à tua mesa a beber café sem açúcar enquanto escrevinho selvaticamente no meu pequeno bloco de notas, desenhada por várias vezes nos teus muitos rascunhos, agora guardados no fundo do caixote do lixo. Tudo isto porque a arte não se esquece, é uma semente discretamente plantada no teu subconsciente. Quando dás por ti estás completamente agarrado, dependente. Seja de um quadro, de um pequeno caderno de folhas acastanhadas ou de mim. A arte estranha-se e sem sequer nos apercebermos, entranha-se.